Consultor da empresa VALOR Orientações Agropecuárias fala sobre manejo nutricional de gado de leite

professor fernando Revista Veterinária –  Como podemos minimizar o balanço energético negativo de vacas em lactação?

Prof. Fernando – É lógico pensar que vacas no início de lactação terão mais sucesso em adaptar-se ao estresse fisiológico imposto a elas logo após o parto quando suas reservas corporais de energia e proteína são adequadas e a vaca está devidamente adaptada à dieta contendo forragens e concentrados, fornecidos em quantidades necessárias à lactação. Então os cuidados para minimizar o balanço energético negativo começam bem antes do início da lactação.

Assim, os seguintes tópicos devem ser considerados na alimentação das vacas na fase inicial da lactação para minimizar o balanço energético negativo: formação de lotes homogêneos e oferecer uma dieta que forneça todos os nutrientes necessários para atender a demanda nutricional; estimular a ingestão de matéria seca, utilizando volumoso de qualidade, oferecer dietas frescas, bom manejo das pastagens, proporcionar conforto; e um bom uso dos alimentos concentrados de forma que proporcione um correto fornecimento de nutrientes sem que haja problemas de distúrbios, como acidose ruminal por exemplo.

Revista Veterinária – Quais os cuidados necessários com as vacas gestantes?

Prof. Fernando – Durante os dois últimos meses de gestação o feto ganha em torno de 60% do peso fetal total. Sendo assim, na fase inicial a vaca prioriza o uso dos nutrientes obtidos na dieta para o desenvolvimento do feto. Assim, caso haja deficiência de nutrientes da dieta, a vaca irá mobilizar suas reservas corporais quando existentes, ou caso não haja, o desenvolvimento do feto ficará prejudicado. Além do desenvolvimento fetal, deve-se preocupar nesse momento pré-parto com a síntese de colostro.

Para isso, é importante que se preocupe com o escore corporal das vacas que chegam a maternidade, sendo que devemos evitar animais no pré-parto em condições extremas, ou vacas muito magras ou muito gordas (escore corporal ideal para vacas holandesas de 3,0 a 3,5, e para vacas mestiças 3,5 a 4,0).

Para que se tenha um bom acompanhamento do parto, as vacas devem ser levadas a um piquete de maternidade aos 21 dias antes da data prevista para o parto, iniciando-se assim a dieta de transição para preparar as vacas para a nova lactação. O piquete de maternidade deve ter boas condições de higiene e estar localizados próximo às outras instalações para permitir bom controle da alimentação e observações freqüentes para que se possa fazer as intervenções necessárias o mais rápido possível.

Revista Veterinária – Qual o impacto que as doenças do periparto podem ter na eficiência de um sistema de produção de leite?

Prof. Fernando – A vaca de leite na fase final do período seco passa por mudanças drásticas no seu estado fisiológico, endocrinológico, nutricional, anatômico e comportamental. Essas mudanças preparam o animal para o parto e lactogênese, passando assim de um período seco para um produtivo, denominado período de transição. Apesar das doenças do periparto costumeiramente não afetarem um grande número de animais do rebanho, seus efeitos nas vacas leiteiras podem ser grandes, causando inúmeras perdas à atividade.

Em adição às doenças metabólicas, a grande maioria de doenças infecciosas, especialmente mastite, torna-se clinicamente aparentes durante as primeiras duas semanas de lactação. Entretanto, a maioria dos fatores de risco que determinam tais enfermidades tem sua origem antes do parto. Doenças, como a hipocalcemia (febre do leite), metrite, edema de úbere, cetose, deslocamento de abomaso e mastite, geralmente se iniciam durante este período. As doenças do periparto de vacas leiteiras constituem um complexo, de modo que uma condição patológica determina a ocorrência de outra. Por exemplo, uma vaca com febre do leite é 4 vezes mais susceptível à ocorrência de retenção de placenta e 16,4 vezes mais susceptível à ocorrência de cetose.

As doenças podem afetar a eficiência produtiva por reduzir a produção de leite, o desempenho reprodutivo ou a expectativa de vida da vaca leiteira. Contudo, o efeito da ocorrência de doenças no periparto sobre a produção de leite não é fácil de ser avaliado, pois depende de vários fatores, tais como a habilidade em reconhecer os sintomas da doença, a rapidez na execução do tratamento, bem como do manejo geral do rebanho.

Revista Veterinária – Quais os fatores importantes para um adequado desenvolvimento do rúmen das bezerras?

Prof. Fernando – Para promover desenvolvimento do rúmen e permitir um desaleitamento precoce busca-se o consumo rápido de uma dieta que promova crescimento do epitélio ruminal (aumento da área de absorção) e a motilidade (para desenvolvimento da musculatura e do tamanho do rúmen e a manutenção da saúde do tecido epitelial).

Quando os bezerros nascem, o estômago contém os mesmos compartimentos de um animal adulto, mas, o retículo, o rúmen e o omaso não estão totalmente desenvolvidos. O abomaso constitui o compartimento funcional mais ativo e envolvido na digestão. À medida que o animal começa a consumir alimentos sólidos, principalmente carboidratos rapidamente fermentáveis (amido, por exemplo), os compartimentos do estômago sofrem modificações e o rúmen passa a ter uma função importante para o animal.

Para um bom desenvolvimento do rúmen, são necessários estímulos químicos e físicos. Para o desenvolvimento do epitélio (papilas ruminais) os ácidos graxos voláteis (AGV), principalmente o ácido butírico e o propiônico, são os mais importantes. As papilas são projeções do epitélio que aumentam a superfície do rúmen e a área de absorção de nutrientes. Os AGV são produzidos à partir da fermentação de carboidratos e de frações de proteínas dos alimentos pelos microrganismos ruminais, e seu efeito sobre o desenvolvimento do epitélio é atribuído à metabolização que ocorre durante a absorção, fornecendo energia para o crescimento do tecido epitelial e para a contração muscular.

O estímulo físico sobre as paredes do retículo-rúmen é importante para promover a movimentação do rúmen, e consequentemente desenvolver as camadas musculares, aumentando assim o volume do rúmen. Para se manter uma boa movimentação do rúmen e suas consequências, a dieta deve apresentar um adequado tamanho de partículas, sendo que esse fator irá influenciar o consumo de alimentos, o ganho de peso e a saúde dos bezerros. Dessa forma, para uma adequada saúde do rúmen de bezerros até a oitava semana de idade, o tamanho das partículas é mais importante que o teor de fibra da dieta. Com isso, o concentrado formulado para bezerros deve apresentar alta granulometria ou ter textura grosseira para provocar movimentação do retículo-rúmen, a ruminação, a salivação e a manutenção de um pH mais adequado.

Coordenador do Curso Manejo Nutricional de Gado de Leite

Consultor da Equipe Bovinos da VALOR Orientações Agropecuárias

 

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Atualizado em: 17 de maio de 2011

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