Fiocruz desenvolve vacina contra esquistossomose e cria marco para o Brasil

Segundo pesquisadores, a vacina será utilizada para imunizar a população em até cinco anos, se os testes forem promissores em humanos. Se ela for fabricada em escala comercial, a fórmula será a primeira contra helmintos, isto é, a única vacina criada até hoje contra uma doença parasitária.

A vacina está em desenvolvimento há mais de 30 anos, sua substância é produzida por meio do uso de parte do organismo causador da doença (um antígeno) como ferramenta para estimular a produção de anticorpos contra um vírus ou bactéria. Uma vez injetado no corpo de uma pessoa, o antígeno prepara o organismo para combater o corpo estranho. Essa fórmula é a primeira baseada no antígeno de um parasita. Ela é feita da proteína Sm14, isolada do Schistossoma mansoni na década de 1990.

A molécula foi clonada em laboratório e recombinada por meio de engenharia genética para ser sintetizada em uma levedura de grande escala. A versão recombinante da molécula é mais pura e segura que a proteína encontrada na sua larva de origem, e pode ser eficaz também contra outros helmintos. De acordo com Miriam Tendler, coordenadora do projeto de criação da vacina, “é bom lembrar que a vacina é o único método que é biologicamente lícito, ou seja, prepara o organismo para se defender do parasita. Não atua eliminando vetores nem espécies”.

A primeira vacina contra a esquistossomose já foi aprovada em sua primeira fase de testes clínicos. O exame inédito com pessoas representa um marco para o Brasil, pois o país nunca havia iniciado o desenvolvimento de uma tecnologia de vacina anteriormente.

O resultado dos experimentos comprova que a substância Sm14 é segura para o uso humano e favorece novos testes, cerca de 15 anos após a comprovação de sua eficácia em animais. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC), responsável pela criação da substância, espera incluí-la no calendário de vacinação infantil das áreas endêmicas e imunizar populações ameaçadas pela doença em no máximo cinco anos.

Quando dos testes em bovinos e ovinos, a eficácia da vacina atingiu índices de 75% a 90% e também foi capaz de proteger os bichos da fasciolose, doença causada por outro tipo verme. Já o teste em humanos começou em maio do ano passado. A vacina, após aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foi administrada em três doses, em 20 pessoas, em estado sadio, no Rio de Janeiro e não apresentou efeito colateral além da dor local, típica de uma vacina intramuscular, de acordo com Tania Araújo Jorge, diretora do IOC.

A segunda fase de testes será feita no início de 2013, sob a coordenação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa etapa de segurança endêmica será de cooperação internacional e vai incluir, entre voluntários, crianças em idade pré-escolar do Brasil e da África. Cerca de 200 indivíduos vão receber a fórmula e serão acompanhados por três meses para garantir que o imunizante não lhes causou efeitos colaterais.

Na etapa final a eficácia da vacina será testada em milhares de moradores de áreas endêmicas. Durante cinco anos, a saúde dessas pessoas será comparada aos índices da doença registrados nas regiões em que vivem. Em 2015 serão anunciados os resultados das fases da vacina, conforme comunica a diretora do IOC. Segundo Pedro Tuil, professor do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade de Brasília (UnB), se eficaz, a vacina será uma evolução muito grande na medicina, porque, até hoje, o máximo que se conseguiu criar foi vacina contra vírus ou bactérias.

Fonte: CFMV

Adaptação: Revista Veterinária

 

 

 

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Atualizado em: 18 de junho de 2012