Toxemia da prenhez relacionada à gestação múltipla patológica em ovelha

Ao longo das últimas décadas, a ovinocultura tem sofrido grandes modificações devido à expansão dos mercados interno e externo, com consequente crescimento do rebanho brasileiro e na capacidade produtiva dessa espécie. O interesse econômico na espécie ovina gerou um aumento na produção científica. Os estudos sobre a exigência nutricional dos pequenos ruminantes demonstra que, no período de gestação, a nutrição deve atender não apenas as necessidades do útero grávido, mas também, do corpo materno, porque ocorrem mudanças nas quantidades de nutrientes e de energia necessárias para que os processos vitais da fêmea permaneçam normais, sobretudo, nos últimos 45 dias, quando os tecidos fetais têm maior desenvolvimento.

As fêmeas com gestações gemelares ou trigemelares apresentam um agravamento do balanço energético negativo, principalmente ao fim da gestação, o que as predispõem para o quadro de toxemia, que ocorre por desnutrição devido ao fato da fêmea não ter acesso a uma quantidade suficiente de nutrientes, especialmente energia, para atender a demanda energética do corpo e dos fetos.

Durante as últimas seis semanas de gestação, o útero aumenta sua área de ocupação com uma correspondente redução no volume do rúmen e retículo, resultando em uma queda na ingestão de alimentos. Associado a isso, existe o aumento da demanda fetal por glicose, que é ainda mais grave em fêmeas de fetos múltiplos, pois, gestação de gêmeos e trigêmeos requer 180 e 240% a mais de energia do metabolismo da fêmea, que passa a utilizar as reservas corporais, como os lipídeos que quando usados como fonte de energia liberam corpos cetônicos que em grandes concentrações causa vários efeitos adversos à saúde do animal.

Primeiramente os animais se isolam e tem relutância a se movimentar, seguindo de tremores musculares e de cabeça, salivação, andar em círculos, decúbito, incoordenação e tombos ao tentar andar, sinais nervosos e pode evoluir para o óbito.

O tratamento consiste na administração de glicose, propionato de cálcio e vitamina B12. A cesariana tem finalidade de diminuir a necessidade de glicose na gestante, porém, mesmo com cirurgia e fluidoterapia intensiva, o prognóstico é ruim para a sobrevivência das fêmeas com quadro grave da toxemia da prenhez e os fetos podem ser retirados mortos ou morrer poucas horas após a cirurgia.

Uma forma de evitar a toxemia da prenhez é compensar a menor ingestão de matéria seca dos alimentos aumentando-se a densidade energética dos mesmos, diminuindo a quantidade de volumoso oferecido e aumentado gradativamente a de concentrados energéticos, pois as fêmeas gestantes de múltiplos fetos sofrem compressão dos órgãos digestórios. O aumento da densidade energética deve ser acompanhado de oferecimento de volumoso de melhor qualidade e com menor teor de fibra bruta. A quantidade de silagem oferecida não deve superar os 40 % do total de volumoso, pois a silagem estimula a formação de gordura dentro abdômen, aumentando a compressão sobre o rúmen. Deve-se fornecer uma dieta com no mínimo 8 % de proteína bruta, não devendo ultrapassar os 15 %.

É de extrema importância realizar o diagnostico da prenhez e a verificação do número de fetos ao redor do 60º dia após o período de cobertura, com o uso de ultrassonografia a fim de calcular a quantidade de ração concentrada ofertada para as fêmeas nas últimas seis semanas pré-parto. Usando desses dados, é possível lançar mão de um manejo que distribua as fêmeas de acordo com o número de fetos, separando aquelas que têm um único feto das demais que necessitam um manejo nutricional especial para evitar o desenvolvimento de balanço energético negativo e a consequente toxemia da prenhez em fêmeas gestantes de fetos múltiplos.

A toxemia em ovinos é uma doença que causa importantes perdas econômicas por levar à morte da reprodutora e de seus filhotes, merece então especial atenção às fêmeas gestantes de mais de um filhote por terem maior chance de desenvolver a doença.

Fontes: GONZÁLEZ, F. H. D.; SILVA, S. C. Bioquímica clínica de glicídios. In: Introdução a Bioquímica Clínica Veterinária

ORTOLANI E. L. Doenças carênciais e metabólicas em caprinos: urolitíase e toxemia da prenhez.

ORTOLANI, E. L. Toxemia da prenhez em pequenos ruminantes: como reconhecê-la e evitá-la. 2008.

SCHILD, A. L. Cetose. In: RIET-CORREA F., SCHILD AL, LEMOS RAA , BORGES JR. Doenças de ruminantes e equinos.

Autor(a): Rosiane Campos Turci –Estudante de Medicina Veterinária da Universidade Paranaense – UNIPAR.

Adaptação: Revista Veterinária

 

 

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Atualizado em: 24 de janeiro de 2013